sexta-feira, 5 de março de 2010

Esclerose múltipla

História da Esclerose Múltipla (EM)

A Esclerose Múltipla (EM) foi descrita e decomentada pela primeira vez pelo Dr. Jean Martin Charcot, em 1868. Este médico e professor universitário baseou-se nas numerosas cicatrizes (escleroses) presentes nas células do sistema nervoso central(SCN), para denominar a doença.
Em 1878, o Dr. Ranvier descobriu a mielina e em 1919 descobriram-se deficiências no fluido espinal de doentes com EM.
Até 1920, pensava-se que os homens eram mais susceptíveis a desenvolver EM, porque a maioria das mulheres era erradamente diagnosticada com uma psicopatologia – histeria – uma vez que os sintomas variavam ao longo do mês.
Em 1925, foi gravada a primeira transmissão de mensagens nervosas, por Lord Edgar Douglas Adrian, que apoiou a teoria de que os nervos desmielinizados não conseguem transmitir os impulsos eléctricos normalmente. Três anos mais tarde a célula produtora de mielina -oligodendrócito- foi descoberta.
No ano 1965, realizou-se um dos maiores avanços no estudo desta patologia: descobriu-se que os glóbulos brancos reagem/atacam a mielina.
Estas descobertas foram muitos importantes para o estudo da EM, mas foi apenas em 1996 que se concluiu que esta se tratava de uma doença auto-imune causada, possivelmente por uma infecção víral.

Causas da Esclerose Múltipla

Na maioria das doenças Auto-Imunes não são conhecidas causas que estejam directamente relacionadas com estas, sendo que apenas se conhecem situações que potenciam o desenvolvimento das mesmas.

Existem no entanto, hipóteses que justificam que o aparecimento da Esclerose Múltipla pode estar relacionado com factores:

Ambientais;
Hereditários;
Virais;
Biológicos.


No que consiste a Esclerose Múltipla

O sistema nervoso central (SNC), constituído pelo encéfalo e pela espinal medula, coordena todas as nossas actividades conscientes e inconscientes. Este sistema tem como efectores uma vasta rede de neurónios que se estendem a todo o corpo – sistema nervoso periférico (SNP)

Os neurónios, células do sistema nervoso, são constituídos por:
· Dendrites – prolongamentos celulares muito ramificados que recebem informação nervosa do ambiente ou de outro neurónio;
· Corpo celular – zona que engloba o núcleo e o citoplasma e que trata as informações emitindo mensagens;
· Axónio – prolongamentos celulares que transmitem as mensagens a outro neurónio ou a um órgão efector. Está envolvido por porções de substância branca – mielina. Esta substância funciona como um isolamento em torno das fibras nervosas, permitindo que a informação seja transmitida mais rapidamente do cérebro ao resto do corpo, ou vice-versa.

A comunicação entre estes dois sistemas, periférico e central, estabelece-se entre o axónio de um neurónio e as dendrites do seguinte, por meio de mensagens nervosas. Esta mensagem transmite-se da seguinte forma: as vesículas, localizadas na arborização terminal do axónio da célula que recebeu a mensagem, ao serem estimuladas por esta vão libertar neurotransmissores, que irão activar os canais de Na+ da célula seguinte. Mudando assim a carga da zona intracelular próxima da membrana para positiva, o que permite a propagação da mensagem.
A alteração da carga nesta zona do neurónio, por entrada dos iões Na+, corresponde a uma mudança do potencial da célula de repouso para o de acção.

Num indivíduo com EM a transmissão de mensagens nervosas não se processa correctamente.
A Esclerose Múltipla resulta de uma lesão na mielina: aquando um desequilíbrio no organismo o sistema imunitário produz citocinas – proteínas programadas para reconhecer e combater vírus e bactérias – em excesso. Estas provocam a destruição da mielina, substância que reveste e protege as fibras nervosas. Desta inflamação resulta uma espécie de cicatriz – esclerose.
Uma vez que a mielina reveste as fibras nervosas, quando ocorre uma anomalia ao nível da mielina as fibras também são afectadas.
Assim, esta cicatriz vai alterar/interromper a propagação do impulso nervoso entre as células nervosas.


Sintomas e tratamento sintomático da esclerose múltipla (EM)

Existem diversos sintomas da EM que podem afectar todos os sistemas do organismo, sendo os mais comuns:
· Neurite óptica: Inflamação do nervo óptico da qual resulta visão turva/embaciada e dor localizada.
· Perda da força muscular: A perda pode variar entre destreza reduzida até à paralisia.
· Alteração do sentido do tacto: Pele irritada, formigueiro, picadas e podem afectar qualquer parte do corpo.
· Dor:
· Nevralgia: Nervos afectados podendo causar dor em diferentes zonas do corpo.
· Sobrecarga muscular: Dores resultantes da dificuldade no movimento.
· Apasticidade: Perda de força muscular acompanhado de contracção em diversos músculos.
· Dificuldades em regular a actividade da bexiga e intestinos.
· Problemas sexuais: dificuldade em obter/manter a erecção (no homem) e perda de sensibilidade dos órgãos sexuais (mulher); dores durante a relação.
· Dificuldade em manter o equilíbrio e em coordenar os movimentos.
· Fadiga: A transmissão de mensagens nervosas não se transmite normalmente, o que exige um maior esforço do corpo do indivíduo.
· Dificuldade em memorizar.
· Alteração de humor.
Estes sintomas podem expressar-se em simultâneo ou individualmente.

Existem várias classificações da EM de acordo com o modo como os sintomas se manifestam. Nomeadamente:
· A EM em surtos: Este tipo apresenta ataques e recuperações ocorrendo, na recuperação, remielinização – reconstituição/reposição da mielina.
· A EM progressiva secundária: Inicia-se com a forma clínica de surtos mas posteriormente instala-se a perda gradual das funções.
· A EM progressiva primária: Apresenta surtos mas num período de anos instala-se uma perda gradual insidiosa das funções do corpo.
· A EM benigna: Inicia-se com a EM em surtos, mas após muitos anos não existem praticamente anomalias no corpo.
A EM é uma doença crónica, não tem cura, mas isso não significa que não tenha tratamento. Actualmente existem muitos conhecimentos sobre a forma de lidar com a EM em surtos. Segue-se uma descrição das formas de tratamento mais comuns:
· Corticosteróides: Substâncias relacionadas com as hormonas produzidas pelas supra-renais. Não travam a progressão da EM, no entanto reduzem a duração dos surtos.
· Interferões: Proteínas - reduzem a gravidade dos surtos e os danos da mielina - libertadas pelo corpo quando ocorre uma inflamação podendo reduzi-la ou estimulá-la. Existem três grupos: alfa, beta e gama, sendo os beta os mais eficazes apesar de não se saber ainda porquê.
· Copolímero1: Proteína artificial que actua como o interferão beta.

Curiosidades da Esclerose Múltipla

A esclerose é um termo médico que refere o endurecimento de um tecido corporal, pelo que todas as doenças que apresentam esta característica possuem esclerose na sua nomenclatura. Assim, existem diferentes patologias “esclerose” conforma o tecido afectado. A aterosclerose, endurecimento dos vasos sanguíneos, constitui um exemplo deste facto.

A esclerose pode ainda ser um sinónimo de cicatriz, como se verifica na esclerose múltipla.

Sem comentários:

Enviar um comentário