sábado, 19 de dezembro de 2009

Textos do 1ºPeriodo

IMUNIDADE
A imunidade consiste nos diversos mecanismos fisiológicos que o nosso corpo desencadeia para reconhecer, neutralizar e eliminar corpos estranhos e possivelmente prejudiciais à nossa saúde. Desta forma quando o organismo é invadido por um antigénio (componente molecular que desencadeia respostas especificas) desencadeiam-se mecanismos de defesa.
Cada indivíduo é biológica e bioquimicamente único, uma vez que cada célula possui glicoproteínas, macromoléculas identificadoras do indivíduo, que se localizam na superfície das células (membranas celulares) e que são a expressão de genes que existem sob diferentes formas alélicas.
Os mecanismos de defesa são não específicos, imunidade inata, ou específicos, imunidade adaptativa.
A defesa não específica corresponde a uma resposta imunitária que é igual em qualquer ser multicelular. Este tipo de defesas divide-se em duas linhas, a que impede a entrada de agentes patogénicos - primeira linha de defesa – e a que actua após a entrada de corpos - segunda linha de defesa.
A defesa específica/imunidade adaptativa é a terceira linha de defesa, adquirida pelos vertebrados com a evolução das espécies. Estes mecanismos de defesa variam tanto de espécie para espécie, como de indivíduo para indivíduo e apresentam diferentes respostas, dependentes de várias células, para distintas doenças.

A primeira linha de defesa é representada por barreiras físicas (pele) e químicas (mucosas). A segunda linha de defesa engloba a resposta inflamatória, a resposta sistémica e os interferões. A terceira linha de defesa é constituída pela imunidade humoral e pela imunidade celular.


CONSTINTUINTES CELULARES DO SANGUE
No sistema imunitário, como em todos os sistemas do organismo, o sangue desempenha uma função bastante importante, sendo constituído por plasma, hemácias (glóbulos vermelhos ou eritrócitos), plaquetas e leucócitos (glóbulos brancos).
As hemácias são responsáveis, essencialmente, pelo transporte de O2 e CO2. As plaquetas participam no processo de coagulação. Por fim, os leucócitos são os constituintes celulares indispensáveis na defesa do corpo.
A importância dos leucócitos deve-se à capacidade de atravessarem as paredes dos capilares – diapedese -, de alterarem a sua forma e de apresentarem receptores glicoproteicos na superfície das membranas.
Dentro dos leucócitos existem dois grupos, os granulares e os agranulares. Esta distinção resulta da presença ou ausência de grânulos (lisossomas) no citoplasma.
Os agranulares englobam os linfócitos (citoplasma escasso e núcleo esférico) e os monócitos (citoplasma moderadamente abundante e núcleo reniforme). Estes leucócitos têm, respectivamente, um papel fundamental na imunidade (fagocitose após se transformarem em macrófagos).
Os granulares incluem os acidófilos e os neutrófilos, que são especializados em fagocitose, e os basófilos que desempenham um papel importante na resposta inflamatória. Os acidófilos, neutrófilos e basófilos diferem entre si de acordo com a reacção a determinados corantes. Os acidófilos coram por substâncias ácidas (têm lisossomas básicos); os neutrófilos por corantes neutros (lisossomas neutros) e os basófilos reagem a corantes básicos (têm lisossomas ácidos).

A resposta imunitária depende dos fagócitos e dos linfócitos. Os fagócitos são células com capacidade fagocitária dos quais se destacam os neutrófilos e os monócitos. Estes últimos têm a capacidade de se diferenciar em macrófagos e de se espalhar pelo organismo para actuar sobre qualquer agente externo.
A fagocitose é o processo de destruição de corpos estranhos, e divide-se em três fases: adesão, ingestão e digestão.
A adesão consiste na apreensão do corpo estranho pelos receptores membranares. Desta captura resulta uma vesícula fagocítica – ingestão.
A digestão consiste na formação de um vacúolo digestivo. Este provém da união de um lisossoma, formado a partir do complexo de Golgi, com a vesícula fagocítica, originada pelos processos anteriores.

Os linfócitos dividem-se em dois tipos, que se distinguem pelos receptores membranares, os linfócitos B e T. Quando ocorre diferenciação dos linfócitos B formam-se plasmócitos que produzem anticorpos e células de memória. Os linfócitos T contribuem para a activação dos linfócitos B, destruindo células infectadas por vírus e células cancerosas. Estes vão ser utilizados pela terceira linha de defesa.

1ª LINHA DE DEFESA
A primeira linha de defesa, pertencente à imunidade inata, desenrola-se de igual maneira para todos os organismos, independentemente das vezes que estes tenham já interagido com o indivíduo. Desta linha de defesa distinguem-se as seguintes barreiras:
• Pele: A camada superficial deste tecido (epiderme) é formada por células mortas que constituem a camada córnea. No entanto, a epiderme é também composta por células especializadas na pigmentação (melanócitos, responsáveis pela defesa dos raios solares) e por células que asseguram a imunidade cutânea;
• Pêlos das narinas: Têm como objectivo constituir uma primeira barreira ao ar inspirado;
• Mucosas: revestem todas as cavidades do corpo que estão em contacto com o exterior. Nas mucosas há produção de muco que fixa os microrganismos dificultando o seu contacto com as células, além disto, também possuem Células especializadas na imunidade;
• Secreções e enzimas: as glândulas sebáceas, lacrimais, sudoríparas e salivares segregam substâncias toxicas (ex.: lisozimas nas lágrimas) para determinados antigénios de modo a impedir a sua progressão.


2ª LINHA DE DEFESA
Todas estas barreiras são eficazes mas mesmo assim é possível a entrada a microrganismos através de qualquer pequeno ferimento. Se esse for o caso a segunda linha de defesa entra em acção.
Caso ocorra a entrada de seres patogénicos verifica-se uma resposta inflamatória local e elevada actividade fagocítica.
A resposta inflamatória é caracterizada por todos os processos que visam activar o sistema imunitário e auxiliá-lo na eliminação de corpos estranhos.
Após a detecção de agentes invasores, os mastócitos produzem histaminas que causam a vasodilatação dos capilares sanguíneos facilitando o transporte dos leucócitos até aos tecidos infectados. Com a vasodilatação dá-se também a saída de plasma, que resulta do aumento da permeabilidade do vaso sanguíneo. Desta forma, dá-se aumento do fluido intersticial que origina um edema.
Nos locais inflamados acumulam-se substâncias químicas que por quimiotaxia atraem os leucócitos. Assim os neutrófilos e os monócitos atravessam as paredes dos capilares até à zona inflamada – diapedese.
Os monócitos, uma vez na zona inflamada, diferenciam-se em macrófagos, células com maior capacidade fagocítica.
Da resposta inflamatória não resulta apenas o edema, estando também associados os seguintes efeitos:
• Calor, deve-se ao aumento do fluxo sanguíneo;
• Rubor, associado à saída de fluído;
• Sensibilidade, que provêm da migração dos leucócitos;
• Dor provocada pela distensão dos tecidos devido à proliferação dos leucócitos.

A segunda linha não depende apenas da resposta inflamatória, sendo também constituída pela resposta sistémica e pelos interferões.

A resposta sistémica é o conjunto de outras reacções que assim como a resposta inflamatória vão activar o nosso sistema imunitário. O exemplo mais recorrente deste mecanismo é a febre – aumento da temperatura corporal – que é desencadeada pela associação entre substâncias produzidas pelo antigénio e pelos pirogénios produzidos por alguns leucócitos. O aumento de temperatura vai desencadear o aumento da actividade fagocítica e inibir a multiplicação de microrganismos.

Os interferões, glicoproteínas cuja função é limitar a propagação de infecções virais, são produzidos por determinadas células, aquando da infecção das mesmas. Estes ligar-se-ão às células incitando a produção de proteínas antivirais, que impedem a replicação dos ácidos nucleícos virais.


3ª LINHA DE DEFESA
A terceira linha de defesa engloba mecanismos que activando e interagindo com as duas primeiras linhas de defesa, edificam respostas adequadas a cada antigénio. Este mecanismo constitui a imunidade específica e abrange tecidos e orgãos linfóides e linfócitos.
Os orgãos linfóides dividem-se em duas categorias, os primários que são constituídos pelo Timo e pela Medula óssea vermelha (local de diferenciação e maturação dos linfócitos), e os secundários (baço, gânglios linfáticos, amígdalas e tecido linfático organizado que se estende pelo intestino delgado e apêndice) local de desenvolvimento da resposta imunitária.
As células efectoras da resposta imunitária específica são os linfócitos B e T. Ambos são originados na medula vermelha a partir das mesmas células estaminais que originaram os restantes elementos sanguíneos. No entanto, sofrem a sua maturação em diferentes locais. As células diferenciadas ao nível do timo tornam-se linfócitos T, de thymus, ao paço que os linfócitos B, de bone marrow, amadureceram ao nível da medula óssea vermelha. Os linfócitos ao amadurecerem adquirem diferentes tipos de receptores, sendo estes diferentes nos linfócitos B e nos linfócitos T, tornando-se imunocompetentes.
Os linfócitos que detectam antigénios do organismo são eliminados. Após a maturação, os linfócitos passam para a circulação sanguínea e linfática, encontrando-se em grande quantidade nos orgãos secundários, como a mucosa intestinal e as amígdalas.
Se houver uma resposta inflamatória, os linfócitos migram para o local do processo inflamatório, ocorrendo o contacto com o antigénio.
O sistema imunitário adquire linfócitos especializados no reconhecimento de vírus ou outro microrganismo, de modo a tornar o organismo imune a essa mesma doença.
As respostas imunitárias específicas podem ser divididas em dois grandes grupos:
• Imunidade mediada por anticorpos (humoral);
• Imunidade mediada por células (celular);
Que são mutuamente influenciadas.

A imunidade humoral depende do reconhecimento de diferentes antigénios sendo eficaz contra bactérias, vírus, toxinas e moléculas solúveis.
Os antigénios são reconhecidos pelos linfócitos B através de receptores membranares, que variam de linfócito para linfócito, denominados imunoglobulinas (proteínas complexas).
Desta forma, determinados linfócitos B ao contactarem com agentes exteriores sofrem uma série de modificações, resultando em plasmócitos. Estas células visam a produção de grandes quantidades de imunoglobulinas, destinadas ao meio extracelular - anticorpos - no entanto, nem todos os linfócitos B se diferenciam em plasmócitos constituindo por vezes, células de memória (células inactivas prontas a responder a qualquer momento).

Os anticorpos são constituídos por cadeias longas (pesadas) e cadeias curtas (leves). Em ambas existem regiões variáveis e constantes. As regiões constantes são semelhantes em todos os anticorpos e regulam a interacção da imunoglobulina com o sistema imunitário. As regiões variáveis são aquelas que reconhecem os epítopos (determinantes antigénicos). Nas regiões variáveis encontram-se os sítios de ligação (sequências de aminoácidos únicas para cada anticorpo).
Os anticorpos não têm a capacidade de destruir directamente os invasores antigénicos mas, sim, a capacidade de se ligarem a moléculas da superfície membranar, permitindo o reconhecimento dos microrganismos. Estes são fixados pelos anticorpos, impedindo a multiplicação ou proliferação dos agentes externos (mecanismos de acção dos anticorpos). Existem diferentes mecanismos de acção dos anticorpos, entre eles:
• Aglutinação: na parede da célula estão presentes vários antigénios. Aquando da invasão do corpo por microrganismos estranhos, produzem-se anticorpos IgG. Estes têm a capacidade de se ligar a antigénios, podendo ligar-se a duas células diferentes, formando uma rede. Com a formação da rede a célula invasora perde mobilidade sendo neutralizada.
• Precipitação: caso o antigénio seja uma molécula solúvel, formam-se complexos insolúveis, mais densos do que a molécula e os anticorpos separados, que precipitam.
• Intensificação directa da fagocitose: a membrana das células fagocíticas possui receptores específicos para o anticorpo. Estes encontram-se ligados aos epítopos das células invasoras, favorecendo a resposta fagocítica da célula.
• Neutralização: ocorre quando os anticorpos fixam vírus ou toxinas bacterianas, impedindo a sua penetração nas células. Posteriormente são destruídas por fagocitose.
Estes processos servem para aumentar a resposta inflamatória e intensificara fagocitose iniciada na defesa não específica. As imunoglobulinas podem ser divididas em 5 classes (IgG; IgM; IgA; IgD; IgE) com base nas diferenças da região constante dos anticorpos. No entanto, anticorpos de classes diferentes podem apresentar as mesmas regiões variáveis.

Contrariamente à imunidade humoral, a imunidade mediada por células tem como efectores os linfócitos T, que nunca produzem anticorpos. Estes, com a ajuda das células apresentadoras, reconhecem os nossos antigénios e os que nos são estranhos.
Este processo resulta na divisão celular dos linfócitos T, dos quais se destacam: linfócitos T auxiliares; linfócitos T supressores; linfócitos T citotóxicos. Sendo que estes últimos são os responsáveis pelo reconhecimento e destruição dos antigénios, nas células alvo. Os linfócitos T são activados contra parasitas multicelulares, fungos, células infectadas por vírus ou bactérias, células cancerosas, tecidos enxertados e orgãos transplantados.
Como já foi referido anteriormente a defesa humoral e a defesa medida por células são interdependentes, visto que os linfócitos B e T mantêm uma correlação.
Esta correlação pode ser representada por um ciclo, em que os diferentes linfócitos T, com o auxílio das IL (proteínas), vão estimular (linfócitos T auxiliar) ou inibir (linfócitos T supressor) a produção de anticorpos pelos linfócitos B. Por outro lado, os anticorpos produzidos por estes últimos, vão facilitar ou diminuir a capacidade dos linfócitos T de atacarem ou destruírem as células invasoras.

DOENÇAS AUTO-IMUNES
A terceira linha de defesa, assim como todos os mecanismos do organismo, estão susceptíveis a alterações no equilíbrio. Estas aumentam a vulnerabilidade do indivíduo a infecções ou conduzem a reacções violentas contra elementos do corpo. Desta forma, a intensidade das reacções imunitárias deve ser ajustada, ou seja, suficientemente intensa para a eliminação dos agentes patogénicos, mas não em demasia.
Normalmente, os linfócitos T que apresentam uma forte afinidade para antigénios do próprio indivíduo são eliminados ou inactivados. Estes nunca abandonam o timo, sendo impedidos de agir. No entanto, os linfócitos que não reagem aos antigénios do próprio corpo, podem devido às alterações acima referidas, diminuir a sua tolerância em relação ao organismo, originando diversas patologias – doenças auto-imunes.


IMUNODEFICIÊNCIA
Pelo contrário, existem determinadas pessoas que nascem (imunodeficiência congénita) ou desenvolvem (imunodeficiência adquirida) deficiências no sistema imunitário. Estas anomalias resultam num défice das células imunitárias.

Na imunodeficiência congénita, os indivíduos nascem sem linfócitos B e T, e esta, é considerada a deficiência do sistema imunitário de maior gravidade. Esta anomalia deve-se a um mau funcionamento da medula óssea, sendo tratável com um excerto da mesma. Em contrapartida, na imunodeficiência adquirida, aquando a concentração de um vírus, as células do sistema imunitário sofrem um decréscimo, tornando o indivíduo vulnerável a qualquer infecção exterior. A SIDA constitui um exemplo de imunodeficiência adquirida.

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